Ademar Inácio

 

Confiança

 

Confiança tida intacta,
talvez o maior tesouro;
vale muito mais que prata,
reluz duas vezes ouro.
 
Qual u’a jarra de cristal,
tem seu brilho transparente;
sem a essência integral,
será como inexistente.
 
Caso uma vez arranhada,
arranhada para sempre;
se inteiriça conservada,
não encontra concorrente.
 
Não admitem, seus elos,
qualquer sorte de emenda;
quem depositário dela
conquistou a grande prenda.
 
Os amigos, geralmente,
a delegam entre si,
fazendo juras eternas
de jamais a destruir.
 
Por isso convivem bem,
amizade e confiança;
patrimônios que se levam
à eternidade-esperança.
 
E neste palco terreno,
pouco importando a idade,
onde esta dupla se instala
faz da vida uma saudade.

 

 

Poema lindo

 

Eu fiz um poema lindo,
todo mundo o admirou;
quem o lê fica sorrindo,
pois ele fala do amor.
 
O amor rima com o sol,
com a lua, com a estrela;
infla a cada arrebol
no delírio por querê-la.
 
Harmoniza-se com a terra,
com as águas, com a luz;
flui do todo que se encerra
na pessoa de Jesus.
 
Presente na natureza,
inerente à oração,
incrementa sua beleza,
traz paz ao seu coração.
 
O amor gera o afeto,
o afago, o carinho;
cura a dor e o desafeto
daquele que está sozinho.
 
Faz-me às vezes impulsivo
e minha alma abrasada,
chego a ser obsessivo
pra abraçá-la, minha amada.
 
No amor se vê a essência
a exalar do Criador,
já que onde faz presença
afasta mágoa e rancor.
 
Par’esse sentir divino,
que sempre se cantem vivas,
se no seu plano, o Deus trino
quis os homens seus convivas.
 
Eu fiz um poema lindo,
todo mundo o admirou;
quem o lê fica sorrindo,
pois ele fala do amor.

 

 

Malfadada utopia

 

Como é doído não ter vivido
uma paixão juvenil.
Mal nascida, rompida viu-se,
sem razão, sem sentido.
 
Embora não seculares,
Bonaparte proferiria:
“Quarenta elípticas te contemplam,
malfadada utopia!”
 
Vindo à tona o porquê
do inesperado esmaecer,
doce ao ego, amargo à alma,
o gosto se anuncia.
 
Revés do aprazível sabor
das ligeiras cartas brotado
(arte bruta de corações em chama,
prescindência do dizer “Te amo”),
da lembrança flui gosto de mágoa,
depressivo sentir derrotado.
 
Missivas, parem!
De repente não mais transitaram,
sem explicação nem adeus,
tal a criança que se perde sem onde,
sem para aonde.
 
Supita-me um vazio no peito.
Engulo seco.
Umedecem-se meus olhos.
Vejo a lágrima que rola.
 
Foi-se
a vida de duas vidas,
sinas diversas vividas,
relegado o “se”.
 
No reencontro,
o olhar vesgo varre ao reverso
a linha do tempo;
toda escusa condenada,
punibilidade caduca.
 
Não mais chance às almas-metades.
Saudade profunda
de um passado-futuro ausente.
Meu coração se aperta.
Desvaneço.

 

 

Lacuna

 

Faz muito tempo os pensares retenho,
como se a tinta estivesse apagada
ou as imagens fugido no empenho
de reduzir meus escritos ao nada.
 
Mas que falta faz descrever as verdades,
pintar coloridas ideias que vêm
ou, sendo oportuno, tratar das vaidades;
se a alguns isso agrada, outros nem as veem.
 
O espaço de tempo que resta em lacuna
no traçado plano da continuidade
detém os pesares que não quero unam
os versos de pranto e da felicidade.
 
Às mágoas recentes ele se destine
pra não formatarem maldito meu estro,
borrando o poema e a alguém desatine
com o gosto amargo do verso indigesto.
 
Que fique a tristeza jogada ao olvido
e assim não sombreie a mente legente;
que a sinta o poeta se achando falido,
porém não será tido por displicente.
 
Hão de retornar mil outras imagens,
desejadas damas de futuros versos,
para se tornarem dignas personagens
a livrar o vate do caos em que imerso.
 
Dê-se, pois, tempo ao tempo a contento,
não conhece a poesia o destempo.

 

 

Cambada
dema

Menino, queria ser grande,
livre, dono de mim,
escolher o que comer,
não ter hora pra chegar,
dormir, acordar;
casa própria,
namorar até...
Sonhos infantis inconsequentes,
natimortos vários na vida corrida.
Ah, o sofrimento, a tristeza,
a alegria, o amor,
o desamor, a dor.
Cadê o maná vindo do céu?
Estudo, trabalho,
sucesso, casório, a perda, o regresso...
o filho (que maldição!), droga, perdição.
Meu Deus, que vida cão!
Nada de graça, as contas em massa,
tributos carcomendo a carcaça.
Quisera de novo ser menino, só menino,
apenas viver e sonhar;
brincar na enxurrada,
jogar bola na rua,
skate na calçada.
Estudar? Palhaçada,
depois, dá-se uma colada,
que a tia é burra (oh coitada!).
Inda agora, que tudo é marmelada,
calculadora (adeus, tabuada!),
ninguém toma bomba mesmo,
forma-se de fornada...
Quando não, é vídeogame,
tablet, notebook,
jogos, filmes, minas beijadas,
até rolezinho na parada.
Ser adulto, pra quê?
Que nada!!!
Deus me livre,
que o bom mesmo
é ser cambada.
https://www.demasilva.com.br/PINEDITOS/CAMBADA.html

 

 

 

Confiança

 
Confiança tida intacta,
talvez o maior tesouro;
vale muito mais que prata,
reluz duas vezes ouro.
 
Qual u’a jarra de cristal,
tem seu brilho transparente;
sem a essência integral,
será como inexistente.
 
Caso uma vez arranhada,
arranhada para sempre;
se inteiriça conservada,
não encontra concorrente.
 
Não admitem, seus elos,
qualquer sorte de emenda;
quem depositário dela
conquistou a grande prenda.
 
Os amigos, geralmente,
a delegam entre si,
fazendo juras eternas
de jamais a destruir.
 
Por isso convivem bem,
amizade e confiança;
patrimônios que se levam
à eternidade-esperança.
 
E neste palco terreno,
pouco importando a idade,
onde esta dupla se instala
faz da vida uma saudade.

 

 

Poema lindo

 

Eu fiz um poema lindo,
todo mundo o admirou;
quem o lê fica sorrindo,
pois ele fala do amor.
 
O amor rima com o sol,
com a lua, com a estrela;
infla a cada arrebol
no delírio por querê-la.
 
Harmoniza-se com a terra,
com as águas, com a luz;
flui do todo que se encerra
na pessoa de Jesus.
 
Presente na natureza,
inerente à oração,
incrementa sua beleza,
traz paz ao seu coração.
 
O amor gera o afeto,
o afago, o carinho;
cura a dor e o desafeto
daquele que está sozinho.
 
Faz-me às vezes impulsivo
e minha alma abrasada,
chego a ser obsessivo
pra abraçá-la, minha amada.
 
No amor se vê a essência
a exalar do Criador,
já que onde faz presença
afasta mágoa e rancor.
 
Par’esse sentir divino,
que sempre se cantem vivas,
se no seu plano, o Deus trino
quis os homens seus convivas.
 
Eu fiz um poema lindo,
todo mundo o admirou;
quem o lê fica sorrindo,
pois ele fala do amor.

 

Estrela errante
dema

Estrela errante,
sem galáxia, 
de beleza exuberante,
no espaço perambula,
machucando corações
de nós outros,
navegantes de alma pura.

Quimera maliciosa,
lábios rosa, beijo em riste,
fez-se doce, até dengosa
pra deixar-me depois triste.

Quando eu quase inda menino,
apossou-se de meus sonhos,
sorrindo, fingiu que era
ninfa-musa de meus mimos.
Mas partiu como viera,
tornou os dias enfadonhos,
aboliu-me as primaveras.

O tempo sem pressa 
bem depressa passa
e induz o olvido 
a dar o ar de sua graça.

Mesmo tardia, de novo ela vem
e o bom navegante então não se contém,
entrega, imediato, o coração franzino
que teve raptado não mais que menino.

Dir-se-ia, portanto, aqui dèjá vu,
tão logo chegara, eu a vi partir.
Tirou-me a esperança, também minha calma
e, de sobejas, tomou a minh’alma.

Estrela errante,
‘strela sem galáxia,
pra mim, navegante,
foste só desgraça.

Estrela bandida
no espaço vagueia.
Que sejas maldita,
sem luz e bem feia.

https://www.demaisilva.com.br/ESTRELA%20ERRANTE.htm
 
A MORTE
                            dema
 
Hoje a morte visita meus sonhos,
faz presença em qualquer pensamento,
está comigo a todo momento
sem a cara dos monstros medonhos.
 
Não se furta a nenhuma lembrança
e quer ser a fiel companheira,
resumir a minha vida inteira,
travestir-se de toda esperança.
 
Revelou-se tratar-me amigo,
transcendência para o além,
pretender-se pra sempre comigo,
inda mesmo enquanto de aquém.
 
Me aproveito desta amizade
pra cercar-me cautelosamente,
implorando até por caridade
que não leve meus queridos entes.
 
Todavia nem jura ela faz,
pois se diz de tudo sabedora,
buscar apenas a minha paz,
escudeira e também salvadora
 
Inda assim não me entrego em seus braços,
não a sinto minha Cinderela,
embora tenha certeza dela,
vou fugindo dos seus abraços.
                             .....................
 
Desmensurável
                dema

A métrica do verso põe rédeas na mente,
trunca palavras doces e belas,
ata mordaça na alma inocente,
arvora-se em causa de muitas mazelas.
 
Ancila de regras que enquadram o poema
e coíbem, por vezes, o poeta nato
que, amante do belo, arrosta o dilema:
tornar-se seu servo ou sua tanato.
 
Regras se implantam, mas deixam janelas,
não se sobrepõem à alma do amante
que, na paixão, se alevanta gigante
para abater qualquer uma delas.
 
O amor não se prende à melhor das amarras,
dela se solta mui facilmente;
mostra irado suas próprias garras,
desata os nós da alma e da mente.
 
Destranca as travas com maestria,
pra em prosa ou verso jorrar poesia;
inda que rude, sem ritmo ou rima,
há de  ser sempre uma obra prima.
 
O que pode, então, ao amor obstar
que se derrame em pujante cascata,
que se declame ante o sol e o luar,
ou de ser tema desta serenata?
 
Mede-se o verso, desmede-se o amor
razão do prazer, da dor e da flor,
advindo que é do senhor do Universo,
sem regras comanda  a prosa e o reverso.
                   ................
Criado por: ADEMAR INÁCIO DA SILVA | E-Mail: demaisilva@gmail.com
 
Primazia do enquanto
                                                       dema
Sobre o antes e o depois
prima o enquanto.
Hoje, possível;
amanhã, talvez.
 
(Quem se foi deixou saudade
ou alívio)
 
Enquanto se vive,
se ama
se cuida, se entrega, se deseja,
se constrói.
 
(Nada mais pós traslado ao além)
 
Regra-lema:
agora, não depois;
hoje, não amanhã;
inda novo, não se velho;
produtivo, não inválido.
 
Enquanto se vive,
se alegra, se ri, se chora, se canta, se dança, se vibra,
se desfruta do viver.
 
Enquanto se dorme,
se sonha.
(Sonhar acordado: imaginário, utopia).

Enquanto se espera,
se busca. 
(Esperança: móvel da conquista.
Sem ela: tédio,desespero).
 
Enquanto se vive,
não se morre.
Enquanto se morre,
debate-se em perder
o enquanto vivo.
 
Concomitância enquântica.
Criado por: ADEMAR INÁCIO DA SILVA | E-Mail: demaisilva@gmail.com
Lamento d'alma
 
                             dema
 
Que hoje se apague o sol,
que a lua brilhe noutros prados;
pra longe a visão do arrebol,
somente os pensares macabros.
 
Talvez seja efeito de El Ninho,
minha alma está seca e fria,
por certo há de estar doentia,
repugna-lhe amor ou carinho.
 
Que o céu se cubra de preto
com rajas de roxo e laranja,
tal como este poemeto
que a musa malvada me arranja.
 
Espero o troar do trovão
rasgando o silêncio maldito
e seguir o estrondar do tufão
o mais horripilante grito.
 
Ei, vulcão, derrame suas lavas,
devaste a planície ao redor!
Tsuname, destranque suas travas
e invada onde achar melhor!
 
Que o fogo devore a floresta
e destrua a vida que resta;
se movam as placas da terra
com o fim do que a era encerra.
 
Que as feras circundem esse antro
e suas garras arranhem minh'alma.
Ganindo, afugentem meu pranto
e advenha-me aos poucos a calma.
 
Que o amor, se for forte, enfrente
a tristeza interior e da mente;
se vencer, me reponha a alegria
pra aguardar o renascer do dia.
 
Se Marte me visita
                                       dema
 
Tocou-me a campainha o vizinho,
que há milênios, bem me lembro, não o via.
Humorada fui fazer-lhe cortesia,
longo papo  e uma taça do bom vinho.
 
Mas que aparência estranha, meu amigo,
o  que em remotas eras foi comigo,
crateras se espalharam por tua face,
por que não maquiá-la pra disfarce?
 
Ao te ver, penso na moça-menina
que, em se olhando no espelho, lacrimeja:
onde a pele limpa, de veludo  e fina,
que ao beijo da mamãe vira cereja?
 
É que tanta espinha me instiga,
ou quem te arrancou cravos profundos;
foram marcianos ou ETs de outros mundos,
que te fizeram feio por intriga?
 
Qual  “porquê” desse vermelho carregado?
 ¾ Ah, sou curiosa, companheiro, ¾
Por acaso teu PT andou zangado
ou te tornaste um comunista por inteiro?
 
Talvez haja um Marx marciano,
ou um Satanás que, por engano,
te tenha visitado e aí fincado
eterna moradia pro pecado.
 
Se bem não me pareças comunista
e nem tenhas cara de malvado,
apenas a feição tão esquisita,
mas sempre mui amigo, longe e ao lado.
 
De repente não sou boa anfitriã,
desse jeito esculhambado te inquirindo,
se meu manto azul-celeste vai cobrindo
malvadeza toda própria de vilã.
 
Perdoa-me o faltar com a gentileza,
pois que com galhofas eu te trato;
certo é termos  a mesma natureza
e pra findar o papo me retrato.
                 ...
Criado por: ADEMAR INÁCIO DA SILVA | E-Mail: demaisilva@gmail.com

Lista de Comentarios

Nome : Antônio de Lima
E-mail : atiramil@terra.com.br
Comentario : Parabéns!
Data : 14/07/2011-19:05:24
----------------------------------------------------------
Nome : jose antonio perdigão
E-mail : perdigao@comfix.com.br
Comentario : Caro amigo Ademar, Parabéns pelas rimas, parabéns pelo sentido delas!! Traga até nossos corações aquilo que você tem de melhor: versos versáteis. um abraço! *jap
Data : 15/07/2011-16:40:56
      
Entardecer
          
A  brisa mansa
balança as folhas das palmeiras
e suaviza o calor sufocante da tarde que cai.
Um raro manto azul manchado de alvas nuvens
encobre a abóboda celestial do planeta.
Súbito, cintilante, a aeronave cruza o espaço
e risca de humano a paisagem divina.
Aqui, extasiado, boquiaberto, pleno de mistério, permaneço
almejando, ante o convite eterno,
vasculhar o infinito.
Prescindíveis rimas a prosaicos versos
que buscam desnudar o belo entardecer
no  hemisfério sul.
Vale!!!
              
Criado por: ADEMAR INÁCIO DA SILVA | E-Mail: demaisilva@gmail.com
             O menino da casa ao lado                   
dema
 
De pouca conversa e nada engraçado,
Vem vindo o menino da casa ao lado.
Sempre triste vem, sem causa aparente;
Se enturma, porém, mui fácil com a gente.
 
Ainda criança, virou companheiro
De festa ou igreja, passar o dia inteiro,
De escola, de risos, de estripulias
E até de amores com as primas Marias.
 
Foi parceiro meu das mil pescarias,
                              Nos jogos de truco, bola vazia;                                 
Quando preciso, também na desgraça,
Chorava comigo e sempre de graça.
 
Se no futebol a dupla vencia,
Troféus de cerveja e de boa cachaça
De um gole sorviam, e as taças vazias,
Com mútuo apoio nas próprias carcaças.
 
Mui cedo sentira na pele o fado,
Morrera-lhe o pai, seu irmão em seguida.
A morte o visava, fechando o quadro,
Talvez pra aumentar-lhe a bruta ferida.
 
Cedo casou-se, foi ser professor.
De paixões sofreu sem ter dado causa.
Se fez de cupido de um meu grande amor
Que, malfadado, hoje me dá náusea.
 
Quis o infortúnio arribar estandarte,
Levando avante a missão cafajeste
D’erguer-lhe uma tumba sem obra de arte:
O nefrologista não era celeste.
 
Durante algum tempo ombrou dura cruz.
Pra tamanho lenho era pequenino
Quando aos trinta e três, tal como Jesus,
Partiu quem nasceu pra morrer menino.
 
Em meu sentimento, perdi um irmão,
Bem mais que de sangue, de coração.
De pouca conversa e nada engraçado,
Foi embora o menino da casa ao lado
 
Lista de Comentarios

Nome : Antonio Claudio Ferreira
E-mail : aclaudioferreira@uol.com.br
Comentario : Assim é nossa vida, os amigos da casa ao lado sempre acham de "ir embora" antes do combinado. Sempre é assim.
Medo
dema
 
Ao revés de vir à luz,
irrompi-me projétil deflagrado contra o insondável universo.
No espaço de obscuridade esparso
fricciono coriscante a trilha do destino que a mim traço.
Tenho por missão o “faça-se!”
Destemo o indefinido,
ou estaria a renegar a humana gênese,
cuja essência perfaz-se no planear-se
e no autóctone executar-se.
Não me apavora a morte,
pois entreposto indeclinável do existir.
Antes fugir da vida,
Senhora do sucesso e do fracasso.
Mas desertar da batalha é
desmerecer–se a mortalha.
Abomine-se o “Laissez faire”,
tremule-se o estandarte “Carpe diem!
Que o agir encha meu farnel pra desjejum
e merenda na jornada.
Fora meu ser, nada a temer.
Mas um receio estranho exsurge
e se agiganta,
parece não ter fim:
é o medo de mim.
          ......
A crítica:
O Prof. Eduardo Humberto de Carvalho, expert em Literatura, Gramática e Linguística, assim se manifestou:"Ademar, fiz algumas “intromissões” no poema “Medo”.  Ei-las:           
            Há, entre tantos, dois traços essenciais que demarcam a construção poética de “Medo”: a seleção vocabular, que tipifica o neoclássico inutilia truncat, e a precisão.  O primeiro, envereda-se, a meu ver, intencionalmente, para o campo da existência humana assaz pertinente em verbetes como “vir à luz”, “universo”, “espaço”,”destino”, “indefinido”, “gênese”, “essência” presentes na primeira estrofe e que, irremediavelmente, sucedem-se  espalhados nas duas subseqüentes cujo teor semântico não se desvia do plano traçado pelo poeta – destemor diante da morte contrapondo-se a um temor de si mesmo; o segundo, caracteriza-se pela habilidade de sintetizar em três estrofes a impassibilidade filosófica diante do medo, abdicando-se do sentimentalismo piegas pela contenção da subjetividade.
            O autor claramente engendra a sua poesia com labor e persistência; preocupa-se com a organização da mesma através de versos livres e concisos. O resultado final é uma composição poética concretizada sob matizes de contenção da musicalidade fácil e o repúdio explícito do exagero muito comum em temáticas de natureza existencialista.
            Por fim, o autor não foge à sua jornada: enche o seu “farnel” para enfrentar a sua jornada de maneira serena. Não há indagações sobre a brevidade da vida; não há tampouco questionamentos sobre o sentido da existência e da incompreensão humana, embora estejam presentes nas entrelinhas por uma razão muito simples: o poeta, apesar de “receio estranho” que “exsurge” do seu interior, estanca-o porque está vigilante para enfrentar o maior dos inimigos – ele próprio.
Obs: Se não julgá-las pertinentes, pode refutá-las. "
 
Não pude deixar de responder:
Meu caro Eduardo,
Muito lhe agradeço pela intromissão encomendada no texto posto sob sua apreciação. Para ser sincero, acho melhor a crítica do que o poema. De fato, há redundância e um certo malabarismo para expressão da temática.
Não tenho o que refutar, apenas a considerar a riqueza que se obtém dependendo de diferentes prismas pelos quais o texto é apreciado. 
Você o analisa sob o aspecto literário, ressaltando qualidades e ranhuras que nele se apresentam. E o faz de maneira clássica, em alto estilo e irrefutável, qualidades que inerem à sua maneira de ser. 
De meu turno, muito embora preocupado com a forma, intentei repassar a ideia existencialista do ser humano, no caso, personalizado no autor, que se vê como um "dado" lançado no universo, cuja essência vai se construindo com a execução do projeto que faz para si. Como nada se encontra definido, como nenhuma garantia há de sucesso ante o livre planear e executar de seu projeto, o grande medo deriva exatamente do exercício dessa liberdade. O homem há de realizar-se, ou não, em decorrência do que tiver construído por si mesmo. A responsabilidade pelo sucesso ou  fracasso é toda sua.